terça-feira, janeiro 05, 2016

Despedida



Não sei o que dizer. Como se começa algo tão difícil? Sim, pelo princípio. Mas qual é o princípio? O nascimento. E este é o fim. Então, porque nasci eu? Para atingir este fim antecipado e sem valor? Para, ao partir, causar nos outros uma dor maior do que a felicidade que lhes trouxe ao chegar?
Desculpem, não queria jamais dar-vos nenhuma dor, e muito menos uma superior a essa felicidade. Mas não posso fazer nada. Deus, a vida, o destino assim quiseram. É justo? É injusto? Justiça e injustiça são conceitos humanos e os humanos não são culpados do que me está a acontecer.
Não há nenhum culpado, e mesmo que houvesse, isso não impediria a minha partida. E o pior não é partir. É não regressar nunca mais para estar com vocês.
Mas é inútil qualquer resistência. A hora da partida já está marcada. Raiva, impotência e frustração são os sentimentos que predominam, mas também eles são inúteis. Pergunto-me, perguntamo-nos porquê, mas não obtemos resposta alguma. E essa raiva, essa impotência e essa frustração aumentam e tornam tudo pior. Perguntas sem resposta ecoam na nossa cabeça e interrogamo-nos o que fizemos para merecer tudo isto. O que poderíamos ter mudado, para não sofrer assim e acabar tão desesperados. Mas se um dia surgir alguma resposta, ela será: nada. Não era possível fazer nada. Talvez ter tentado antecipar o que iria acontecer. Mas não foi assim que se passou, e agora é impossível voltar atrás. É tarde para tentar pensar nos sonhos que ficaram por viver, nas viagens que ficaram por fazer, nas palavras que ficaram por dizer. É tarde para pedir desculpas e perdoar arrependimentos.
Apesar disso, não imaginam como eu queria que tudo tivesse sido diferente. Como gostaria de ficar com vocês. Ou pelo menos, levar comigo a vossa dor, para que não tivessem de sofrer. Mas peço-vos que tentem ter coragem para encarar a vida depois de eu partir. Acreditem que vou para um sítio melhor, e isso ajudará a atenuar a dor. Acreditem que, apesar de não a compreender, eu aceito a inevitabilidade da minha partida, e isso ajudará a que tenham mais força todos os dias. Acreditem que se se oferecessem para trocar de lugar comigo, eu não aceitaria, e isso ajudará a guardarem-me no coração. Acreditem que parto primeiro que vocês, para preparar a vossa chegada daqui a muitos anos, e de manhã acordarão com menos tristeza.
Agora, é finalmente chegado o momento do adeus. Não vale a pena sentir mais revolta e nem sequer compaixão, embora a vontade seja essa e o pensamento apenas permita esses sentimentos. O desânimo junta-se também nestes instantes finais, mas sei que vocês conseguirão vencê-lo, tal como eu consegui vencer o medo do que me espera ao partir.
Amigos, deixo-vos um abraço forte, sentido, e um brinde à verdadeira amizade. À nossa amizade.
Mãe, pai, mano, mana, avós, sobrinhos, família. Olhem uns pelos outros por aqui. Onde quer que eu esteja, também irei olhar por vocês. Com vocês, a partida é difícil. Sem vocês, seria mais difícil ainda. Levo comigo uma pouco de todos vós para a próxima vida, caso haja uma.
Nunca trocaria tais amigos e família por outros, nem que tivesse de viver com eles por toda a eternidade.
Finalmente, peço desculpa a todos por todo o mal que vos fiz, por tudo o que esperavam de mim e não consegui ser e fazer, por partir desta maneira. Espero que me possam perdoar.

Adeus

1 Comments:

Blogger Sandra Capelas said...

Quem partiu foi o "Anjo Imperfeito "?
Que quem está dentro dele (ou fora dele, dependendo do ponto de vista) permaneça vivo e cheio de saúde! A nenhum jovem deve ser vedado o direito de viver!
Juízo, rapaz!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016 às 18:35:00 WET  

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